Il Testo a fronte di questa settimana è dedicato allo scrittore e giornalista brasiliano Marcelo Ferroni: pubblichiamo un estratto del suo Metodo pratico di guerriglia, basato sui diari, i rapporti e le deposizioni di chi prese parte alla lotta armata in Bolivia al fianco del Che. La traduzione è di Sara Cavarero.
Método prático da guerrilha di Marcelo Ferroni O agente de codinome Mercy è um homem prevenido. Nesse 5 de janeiro nublado e úmido, depois de um café da manhã frugal, proque o hotel El Incaico, no centro de La Paz, não oferece nada além de chá de coca, broas de milho e um queijo muito forte da região, ele atravessa o lobby de pasta na mão, acena para um táxi como se fosse a um encontro urgente (está na Bolivia, afinal, a negócios), mas desce a algunos quarteirões dali, onde, a seguir, toma um ônibus até uma área residencial. Debaixo de uma garoa comum nessa época do ano, planta-se em frente ao número 232 da rua Juan José Pérez, um casarão depredado dois andares, cercado por um muro verde-musgo, portãozinho de ferro que deixa ver alguns vasos no pequeno pátio. Já conhece o local, esteve ali outras vezes: è uma pensão para moças, sabe que uma delas se chama Laura Gutiérrez Bauer. È quel procura; uma argentina de origem alemã que mora há cerca de dois anos na Bolívia. Tira do bolso do paletó uma foto 3×4 em branco e preto, onde se vê um rosto de mulher. Abriga-se sob um telhado, do outro lado da rua, espera que ela apareça. Olha diversas vezes o relógio de pulso, a fotografia, e sua atitude pode parecer suspeita a um pedestre mais atento. Ela finalmente abre o portão às 9h30. Usa uma bolsa vermelha de couro, casaco de chuva cinza escuro que esconde suas formas robustas; Mercy vê as canelas grossas, brancas, em sapatos fechados. Usa um lenço estampado no cabelo e desce a rua com passos rápidos, que forçam o agente a acelerar a marcha, sem no entanto se aproximar muito.Mercy chegou a La Paz dois dias depois do Ano-novo de 1966 e ainda não se acostumou às enxaquecas e tonturas que o acometem; efeitos da altitude. A pasta que tem que carregar è pesada, mas necessária para seu disfarce de representante de uma firma mexicana de produtos de beleza. Dois dias antes, fez um detalhado reconhecimento da área or redor da pensão e procurou a alemã nos locais que ela frequentava. Visitou o museu de folclore do Ministério da Educação, onde supostamente trabalhava. Não a avistou e, para não levantar suspeitas, comprou «por trinta pesos» um exemplar de Diablada, livreto mimeografado de cultura popular, «apesar de eu ter percebido depois que, para os bolivianos, as cópias eram destribuídas de graça», escreveria ele mais tarde, no primeiro relatório a Havana. Em seguida foi a um certo salão de beleza Martiza, apresentou-se como vendedor de cremes e loções, deixou em cartão, mas não a identificou entre as clientes. Passou também num curso de cerâmica que ela fazia duas vezes por semana, mas preferiu não entrar; o recinto era ocupado exclusivamente por mulheres e efeminados, e não timha um álibi convincente. Como não a encontrava em lugar nenhum, chegou a desconfiar se realmente trazia a foto correta ou se o departamento de inteligência cometera outro de seus equívocos.Agora conforme a segue pelas ruas de La Paz, tem certeza de que é ela. Mas está desatento, deixou que se distanciasse e logo comete o primeiro deslize. A alemã, muito adiantada, salta entre poças no meio-fio e alcança um ônibus que deixava o ponto. Vendo que vai perdê-la, Mercy desce correndo o trecho que falta, desviando dos vendedores ambulantes, bate na lataria, acelera e se agarra á porta automática até que o motorista, vencido pela insistência, encosta novamente. Os passageiros o fitam quando sobe os degraus ofegante; inclusive Laura, sentada no corredor da quarta fileira. É ela, certamente. Tem pele muito clara, de tom cinzento, e sobrancelhas arqueadas sobre um nariz pronunciado. Descem nem bairro residencial, Mercy a segue até uma casa de muros altos, onde ela permanece por três horas. O agente saberá mais tarde que aquela è a residência de uma menina a quem ela dá aulas particulares de alemão. Dali ela caminha até o centro da cidade, almoça rapidamente em uma lanchonete, vê as vitrines de roupas femeninas. Pega outro ônibus (ele desta vez a segue de táxi), desce nas cercanias da Universidade Técnica de La Paz. Anda sem pressa pela alameda de árvores mortas. Às três da tarde ela está na esquina do prédio de engenharia, onde cumprimenta um jovem miúdo, de feições indígenas, que não tira o sorriso dos lábios e acena que sim para tudo o que ela diz. Há também outro rapaz, aparentemente mais novo, que Mercy virá a descobrir ser o irmão dele. Segundo o dossiê que estudou antes de viagem à Bolívia, aquele jovem de sorriso permanente é Mario Martínez Álvarez, 22 años, estudante de engenharia de minas. Tornou-se noivo de Laura em setembro do ano anterior, a incongruência não pode ser maior. A alemã è pelo menos três anos mais velha e viajou por toda a Europa antes de ir à Bolívia estudar folclore. Mariucho é em rapaz humilde, filho de um mineiro semianalfabeto de Oruro. Mas se encantou por essa mulher experiente e atlética, campeã de ginástica olímpica na adolescência, que toca acordeão e, quando não está com o instrumento entre os braços, adora dançar estalando os dedos «como as flamencas». Uma sequência de imagens, encontrada anos atrás por um biógrafo, a mostra assim, dedos torcidos para cima, xale nos ombros, sorriso de olhos fechados. Mariucho não contou do noivado ao pai, já disse mais de uma vez que pretende se rebelar depois de formado, recusa-se a voltar «àquele fim de mundo», como diz. Mercy os segue de volta à pensão. «Passava das oito da noite quando se despediu de um dos jovens [o irmão] e saiu com o outro em direção ao cine Monte Campeto. Jantei em um restaurante chinês e vi quando deixaram o cinema. Voltaram para casa, ela tomava a iniciativa da caminhada», escreve Mercy em seu relatório. Considera a jornada um sucesso; tudo parece tranquilo, pode seguir com as operacões. Volta ao hotel. Um dia mais tarde, decide telefonar de um aparelho público nos fundos de uma botica, numa praça afastada do hotel. «Estou procurando uma professora de alemão», diz ele. «Como?», responde a mulher que atendeu a ligaçao. Mercy repete: «professora, de alemão». Estática; ao fundo, pode ouvir que a mulher se afastou do fone e grita, chama alguém de nome Laura, grita de novo, pede que desça rapidamente, um «estrangeiro» quer falar, não sabe quem è, não disse como se chama nem cumprimentou. Mercy não comenta no relatório, mas está provavelmente nervoso e, enquanto espera na linha, se arrepende de não ter treinado com afinco o sotaque local. Queri passar-se por morador mas agora è anunciado como estrangeiro, espera não ter cometido outro descuido. Na linha, uma voz mais joven pergunta quem fala. «A senhora è professora de alemão?», tenta novamente o sotaque, que desta vez lhe soa muito musical. «Sim». «A señorita dá aulas de alemão para negócios?» A voz hesita e vem pausada. Diz que não, alemão para negócios è assunto que não aborda en suas sliçoas. O homem pede disculpas pelo incômodo e desliga. Sai da cabine telefônica, paga ao proprietário quanto deve, deixa a botica com a missão da manhã cumprida: ela entendeu as senhas, utilizou as contrassenhas, em breve irão se encontrar. Porque Laura Gutiérrez Bauer, pesquisadora de folclore indígena e noiva de Mariucho, que se sustenta com aulas particulares e aluga um quarto simples de pensão, è, assim como Mercy, agente do regime cubano. Seu codinome, Tania. |
Metodo pratico di guerriglia traduzione di Sara Cavarero L’agente segreto Mercy è un uomo prudente. Quel nuvoloso e umido 5 gennaio, dopo una colazione frugale, dato che l’albergo El Incaico, nel centro di La Paz, non offre nient’altro che mate di coca, paste di mais e formaggio locale molto saporito, attraversa la hall con la valigetta in mano, fa cenno a un taxi come se stesse andando a una riunione urgente (in fondo è in Bolivia per affari), ma scende pochi isolati dopo e prende un autobus fino a un quartiere residenziale. Sotto una pioggerella tipica di quel periodo dell’anno, si apposta davanti al numero 232 di calle Juan José Pérez, una grande casa a due piani mezza diroccata, circondata da un muro verde muschio, con un portoncino di ferro che lascia intravedere qualche vaso nel piccolo cortile interno. Conosce il posto, c’è già stato altre volte: è una pensione per ragazze, sa che una di loro si chiama Laura Gutiérrez Bauer. È lei che sta cercando: un’argentina di origini tedesche che vive in Bolivia da circa due anni. Tira fuori dalla tasca del cappotto una foto 3 x 4 in bianco e nero, che ritrae un volto di donna. Si ripara sotto un tetto, dall’altro lato della strada, e aspetta che lei si faccia vedere. Controlla diverse volte l’orologio da polso, la fotografia; il suo modo di fare può sembrare strano agli occhi di un passante attento. Finalmente, alle 9.30, lei apre il portone. Ha una borsa di pelle rossa e indossa un impermeabile grigio scuro che nasconde le sue forme robuste; Mercy nota le gambe grosse, bianche, e le scarpe accollate. Ha i capelli coperti da un foulard colorato e percorre la strada a passo svelto, cosa che obbliga l’agente ad accelerare, senza però avvicinarsi troppo.Mercy è arrivato a La Paz dieci giorni dopo il Capodanno del 1966, ma non si è ancora abituato alle emicranie e alle vertigini a cui è soggetto: effetti dell’altitudine. La valigetta che porta con sé pesa parecchio, ma è necessaria al suo travestimento da rappresentante di una marca messicana di prodotti di bellezza. due giorni prima ha fatto una minuziosa ricognizione della zona circostante e ha cercato la tedesca nei luoghi che è solita frequentare. Ha visitato il Museo del Folklore del Ministero dell’Istruzione, dove si presuppone che lei lavori. Non l’ha vista e, per non destare sospetti, ha comprato, «per trenta pesos», un numero di Diablada, fascicolo ciclostilato di cultura popolare, «anche se venni poi a sapere che, per i boliviani, le copie erano gratuite», avrebbe scritto più tardi nel suo primo rapporto all’Avana. Quindi è andato in un salone di bellezza chiamato Martiza, si è presentato come rappresentante di creme e lozioni, ha lasciato un dépliant, ma non l’ha vista fra le clienti. È anche andato a un corso di ceramica che lei frequenta due volte la settimana, ma ha preferito non entrare; c’erano solo donne e uomini effeminati e lui non aveva un alibi convincente. Non riuscendo a trovarla da nessuna parte, ha iniziato a chiedersi se aveva con sé la foto della persona giusta, o se invece il dipartimento dell’Intelligence aveva nuovamente commesso uno dei suoi errori.Ora, mentre la segue per le strade di La Paz, è sicuro che si tratti di lei. Ma si distrae, le permette di distanziarsi e commette il primo sbaglio. La tedesca, decisamente più avanti, salta fra le pozzanghere sul marciapiedi e raggiunge un autobus in partenza. Accortosi che sta per perderla, Mercy percorre di corsa il tratto mancante, schivando due venditori ambulanti, bussa sulla carrozzeria del bus, accelera e afferra la porta automatica finché l’autista, vinto da quell’insistenza, accosta di nuovo. Mentre sale sulla predella, ansimante, i passeggeri lo osservano; anche Laura, seduta nella quarta fila. È sicuramente lei. Ha i capelli molto chiari, biondo cenere, e sopracciglia arcuate su un naso pronunciato. Scende in un quartiere residenziale, Mercy la segue fino a una casa dai soffitti alti, dove lei rimane per tre ore. L’agente, in seguito, scoprirà che si tratta della casa di una ragazza a cui Laura dà lezioni private di tedesco. Si allontana poi verso il centro città, pranza alla svelta in una caffetteria, guarda le vetrine di abbigliamento femminile. Prende un altro autobus (lui questa volta la segue in taxi) e scende nelle vicinanze dell’università Tecnica di La Paz. Cammina senza fretta lungo il viale dagli alberi spogli. Alle tre del pomeriggio si trova all’angolo con l’edificio di Ingegneria, dove saluta un ragazzo minuto, dai tratti indigeni, che ha un sorriso stampato sulle labbra e fa cenno di sì a tutto ciò che lei gli dice. C’è anche un altro ragazzo, apparentemente più giovane, che Mercy identificherà come il fratello del primo. Stando ai dossier che ha consultato prima del viaggio in Bolivia, il giovane dall’eterno sorriso è Mario Martínez Álvarez, ventidue anni, studente di ingegneria mineraria. Si è fidanzato con Laura a settembre dell’anno prima, non può esserci incongruenza più grande. La tedesca è di alcuni anni più vecchia e, prima di andare in Bolivia a studiare folklore, ha viaggiato per tutta Europa. Mariucho è un ragazzo umile, figlio di un minatore semianalfabeta di oruro. Ma è rimasto incantato da quella donna esperta e atletica, campionessa di ginnastica artistica quand’era adolescente, che suona la fisarmonica e, quando non ha lo strumento fra le braccia, adora ballare muovendo le dita «come le ballerine di flamenco». una sequenza d’immagini, trovata anni prima da un biografo, la mostra così: dita rivolte in alto, scialle sulle spalle, sorriso e occhi socchiusi. Mario non ha parlato a suo padre del fidanzamento, ha già ripetuto tante volte che intende ribellarsi dopo la laurea, si rifiuta di tornare in quello che chiama «un posto dimenticato da dio». Mercy li segue di ritorno alla pensione. «Erano ormai passate le otto di sera quando salutò uno dei due giovani [il fratello] e uscì con l’altro, diretta verso il cinema Monte Campero. Cenai in un ristorante cinese e li vidi uscire dal cinema. Tornavano a casa e lei l’aveva convinto a fare una passeggiata», scrive Mercy nel suo rapporto. Considera la giornata un successo; sembra tutto tranquillo, si può procedere con le operazioni. Torna in albergo. Il giorno dopo, decide di chiamare da un telefono pubblico sul retro di un negozio, in una piazza lontana dall’albergo. «Sto cercando un’insegnante di tedesco», dice lui. «Come?», chiede la donna dall’altro capo dell’apparecchio. Mercy ripete: «Insegnante di tedesco». Silenzio; poi, in sottofondo, riesce a sentire che la donna si allontana dalla cornetta e urla, chiama qualcuno di nome Laura, urla di nuovo, le chiede di scendere subito, uno «straniero» vuole parlare con lei, non sa chi sia, non si è presentato e non ha detto il suo nome. Mercy non ne parla nel suo rapporto, ma probabilmente è nervoso e, mentre aspetta, si pente di non essersi allenato abbastanza con l’accento locale. Voleva passare per uno del posto e invece è stato annunciato come uno straniero, spera di non aver commesso un altro errore. Al telefono una voce più giovane chiede chi parla. «Parlo con l’insegnante di tedesco?», riprova con l’accento del posto, che questa volta suona molto musicale. «Sì». «Dà lezioni di tedesco commerciale, señorita?» La voce esita e poi si ferma. dice di no, che nelle sue lezioni non si occupa di tedesco commerciale. L’uomo chiede scusa per il disturbo e riaggancia. Esce dalla cabina telefonica, paga quel che deve al proprietario, lascia il negozio dopo aver portato a termine la missione del mattino: lei aveva capito il messaggio in codice, aveva risposto con la parola d’ordine, a breve si sarebbero incontrati. Perché Laura Gutiérrez Bauer, etnologa e fidanzata di Mariucho, che si mantiene con le lezioni private e affitta una semplice stanza in una pensione è, proprio come Mercy, un’agente del regime cubano. Nome in codice: Tania. |
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